Peixinhos da Horta

by | 5 Mar, 2020 | Estremadura, Gastronómicas, Províncias, Tradições

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Fazer de pouco, muito. É essa, na maioria dos casos, a divisa da cozinha tradicional portuguesa. O mesmo acontece com os Peixinhos da Horta, uma espécie de hino ao minimalismo que, segundo alguns, serviu de inspiração à cozinha nipónica.

A tempura à moda lusitana

Falamos em tempura e o Japão entranha-se no pensamento. Uma forma simples e diferente de apresentar os vegetais (ou outro tipo de alimentos) ganhou fama nas terras do sol nascente, saindo daí para o mundo.

A coisa é fácil de explicar: pega-se numa cenoura, por exemplo, e em vez de a comermos crua ou cozida, fritamo-la com um polme a servir-lhe de agasalho. Os japoneses tornaram-se exímios nisto, não há quem duvide.

Contudo, não param de chegar teorias a defender que a ideia começou numa expedição missionária portuguesa ao extremo oriente. Por lá ficámos pouco tempo, mas o suficiente para apresentar uma particular forma de comer feijão-verde – misturando-o com massa para o fritar de seguida.

É difícil comprovar a hipótese da tempura ter nascido das mãos de cozinheiros lusos. Ou pelo menos é difícil ter total certeza disso. Ainda assim, e tendo em conta as inúmeras opiniões de críticos e historiadores da gastronomia nacional e internacional, podemos afirmar haver uma elevada probabilidade de uma passagem de conhecimento ter acontecido entre os missionários cristãos de Portugal e os japoneses que, apesar de todas as reservas, os receberam.

Certo é que os japoneses aplicaram a fritura a vegetais e não só, e nós por cá mantivemo-nos fiéis ao produto original: umas tiras esverdeadas que, avolumadas pelo polme, se assemelhavam a pequenos peixes, ou seja, a peixinhos – só que estes peixinhos não vinham de mar ou rio, mas sim da terra… eram peixinhos da horta.

Onde comer Peixinhos da Horta

A resposta mais rápida, ainda que um tanto generalista, é a seguinte: na Estremadura, sobretudo em Lisboa e respectiva área metropolitana. O que não significa que não sejam servidos noutras províncias, quer como entrada, quer como prato, quer como acompanhamento – no Alto Alentejo e no Baixo Alentejo são bastante comuns, por exemplo.

Na capital, detalhando agora mais um pouco, saliento dois restaurantes que tratam os Peixinhos da Horta com o cuidado digno de um prato principal: o As Velhas, junto da Avenida da Liberdade; e o Coelho da Rocha, em Campo de Ourique. Haverá outros muito bons, certamente, até porque é impossível dar conta de todas casas que servem um petisco tão cobiçado.

Receita

Conte-se com meia hora entre o momento em que decidimos cozinhar feijão-verde e aquele em que o transformamos em Peixinhos da Horta.

A preparação deve ser feita em duas frentes. De um lado o corte do feijão-verde. Do outro a elaboração do polme. É do posterior encontro entre ambos que resultam os Peixinhos da Horta.

Começando pelo feijão-verde: devemos lavá-lo bem e tirar-lhe o fio (caso ele exista) para depois cortá-lo de duas formas – em primeiro lugar, nas pontas, tirando-lhes os bicos; em segundo lugar, longitudinalmente, isto é, ao comprido, abrindo as vagens. Se o feijão-verde estiver um pouco mole, o que é hábito acontecer quando é comprido, podemos eventualmente cortá-lo uma terceira vez, desta feita ao meio (e diga-se que quanto mais pequeno for o Peixinho da Horta, mais fácil é de fritar). Assim que tenhamos a quantidade ideal laminada, é pôr tudo a cozer em água temperada com sal durante cerca de quinze minutos até que fique firme.

O polme, que até pode ser cozinhado ao mesmo tempo que a cozedura do feijão-verde, é feito numa tigela, juntando farinha, água, ovos, azeite, cebola, pimenta e um pouco de sal (há quem lhe adicione cerveja ou leite em vez de água). Idealmente, colocamos a farinha junto à orla da tigela e os restantes ingredientes no meio. Depois disso, mexemos bem, até que a massa esteja líquida mas consistente.

A soma destas duas fases resultará nos Peixinhos da Horta, quando pegarmos no feijão-verde e o enrolarmos no polme (há quem o faça unindo dois feijões-verdes de uma vez para que se torne menos flácido), fritando-o depois em óleo quente e deixando-o escorrer depois da fritura.

Há quem goste de complementar com um molho, normalmente maionese, mas também molho de tomate ou de soja. Opinião pessoal: prefiro-os a solo ou, eventualmente, gotejados com limão.

Peixinhos da Horta acompanhados por limão espremido

Uma das melhores entradas lusas: os Peixinhos da Horta