Lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas
Monumentos
Natureza
Povoações
Festas
Tradições
Lendas
Insólito
Alfândega da Fé fala disto, de uma antiga história onde cavaleiros de uma enigmática ordem religiosa chegaram a Trás-os-Montes para salvar uma terra do despotismo de um mouro. Alguns conhecem estas palavras como a Lenda do Tributo das Donzelas, mas é mais famoso o seu outro nome: a Lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas.
Pouco se sabe sobre a influência dos Cavaleiros das Esporas Douradas em Portugal. Normalmente, a sua acção reveste-se sempre de um cariz lendário.
A lenda
Um sarraceno que vivia pelo Monte Carrascal tinha mão de ferro em toda a sua área circundante.
Uma das suas pancas era a de obrigar o povo a cumprir o Tributo das Donzelas: ou seja, qualquer homem que quisesse casar, seria obrigado a dar o nome da sua noiva ao mouro e este, se entendesse, poderia possui-la antes do casamento. Uma taxa, no fundo, mas paga com material humano, e que de humano nada tinha.
Um dia, dois jovens cristãos da zona pretendiam casar. Ela era uma bela donzela. Ele o líder de uma Ordem pouco conhecida, a dos Cavaleiros das Esporas Douradas. O mouro, sabendo da beleza da pobre mulher, não se negou a que o noivo pagasse o imposto exigido.
Mas desta vez o próprio povo se revoltou, e inspirado pela fúria, o cavaleiro juntou a sua Ordem e decidiu atacar o mouro e o seu exército.
A batalha foi sanguinária e, segundo crença, começou da pior maneira para o lado cristão. Foi precisamente quando tudo parecia estar perdido que surgiu Nossa Senhora que, com um bálsamo na mão, começou a curar os feridos e a ressuscitar os mortos cristãos. Deu-se então o volte face. Os Cavaleiros da Ordem das Esporas Douradas, literalmente renascidos, acometeram contra os sarracenos até os expulsarem de vez daquelas terras.
Era o fim de um período malvado. O último dia do Tributo das Donzelas.
Em agradecimento, construiu-se nesse cerro o Santuário de Nossa Senhora de Balsamão (suposta contracção de bálsamo na mão).
A Ordem dos Cavaleiros das Esporas Douradas
A ordem em causa, não sendo propriamente falada na tradição oral portuguesa, teve a sua importância em tempos idos, anteriores ao século XIX.
Era tutelada pelo Papa e só seria lá incluído quem provasse ter mostrado obra na propagação da fé católica, mesmo que através das armas, ou sobretudo por aí.
Não sei de qualquer português que fosse, com certeza, membro da ordem – embora a lenda diga que o tal cavaleiro que se insurgiu contra o mouro se chamasse Rodrigo Ventura de Melo. No livro das Ordens Religiosas em Portugal, a Ordem dos Cavaleiros das Esporas Douradas não aparece, nem como ordem de cavalaria, nem como ordem religiosa.
Isso não significa que Portugal, um território que se fez pela conquista cristã a território muçulmano, não tenha tido cavaleiros distinguidos – o mais provável é que tenha, e as lendas atestam-no.
Há, além de vários exemplos encontrados em chão transmontano, outra menção a estes cavaleiros numa lenda da Beira Alta.
A lenda da Aldeia de Cabeça
Paulo Alexandre Loução, no seu livro acerca das aldeias da Serra da Estrela, fala de uma lenda que se conta em Cabeça.
Diz-se até que três Cavaleiros das Esporas de Ouro foram os fundadores dessa terra tão próxima de Loriga. Curiosamente, neste caso, foram eles que raptaram três mulheres e que as desposaram, cada um com a sua casa, e destas foram aparecendo mais, formando-se assim Cabeça.
Na mesma página, Loução diz que lhe foi contada a relação de uma igreja com esta Ordem, em Algozinho, terra a cerca de quinze quilómetros a oriente de Mogadouro, em Trás-os-Montes. E continua, citando o historiador Joaquim de Santa Rosa de Viterbo: “dentro de sepulturas se tem achado esporas douradas e que sem dúvida faziam a distinção destes cavaleiros”.