Centro de Interpretação do Românico

by | 25 Nov, 2024 | Douro Litoral, Lugares, Monumentos, Províncias, Religiosos

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Pontos nos is: o Centro de Interpretação do Românico é uma maravilha, e é-o por duas razões – porque ensina o visitante acerca do Românico como movimento europeu, ibérico, e português, com saudável equilíbrio entre detalhe e descomplicação; e porque o próprio edifício, situado num amplo largo na vila de Lousada, papou prémios de arquitectura com toda a justiça e veio reestruturar o espaço da vila e da comunidade que nela habita.

Há, portanto, duas visitas a fazer de uma assentada. A óbvia é a do museu, de função pedagógica, que se inicia lá dentro, depois de pago o ingresso e corrido o amplo salão de entrada. E uma outra, talvez mais sútil, alguns dirão até inconsciente, que começa do lado de fora e continua no interior, e que consiste na apreciação de uma obra singular capaz de invejar qualquer grande cidade no Velho Continente.

A casa românica no século XXI

Digo-vos eu, sem vergonha, que não tenho grande paciência para muitos dos produtos da arquitectura moderna. Acho-os, na esmagadora maioria dos casos, elitistas e presunçosos, escudados em detalhes técnicos, sem sentido estético, ou, para simplificar, feios. Nos piores exemplos, reduzem-se a caixotes funcionalistas, sem qualquer continuidade histórica, e, pior, onde ninguém se sente acolhido.

No entanto, há casos que me contrariam. Melhor, me dão esperança. O que me leva a escrever sobre o Centro de Interpretação do Românico.

O elogio maior a fazer é que se mostra exactamente como eu imaginaria um templo românico contemporâneo. Se o Românico, não só enquanto estilo arquitectónico mas também como doutrina de pensamento (ou até de propaganda), tivesse sido congelado pelo século XIII ou XIV e descongelado no século XXI, e ao mesmo tempo lhe dessem permissão para desfrutar da tecnologia de hoje, o desfecho não variaria grande coisa do que se pode admirar aqui.

Tudo aquilo que define um monumento Românico (austeridade nas formas, ausência de vãos ou janelas, interiores de pouca luz, robustez da pedra, imponência do portal de entrada) encontramos, com as devidas traduções temporais, no actual Centro de Interpretação. Bastará comparar, por exemplo, os volumes mais verticais, bastante perceptíveis se olhados de fora, com as torres senhoriais minhotas e durienses (veja-se a Torre de Vilar no concelho de Lousada, para não ter de ir muito longe), e as semelhanças são evidentes – na prática, a maior diferença a apontar é a substituição do granito por cimento, e mesmo essa, como terá sido intuito dos arquitectos responsáveis, pouco se repara à distância.

Não surpreende, portanto, a colecção de prémios que o Atelier Spaceworkers foi recebendo desde 2018, ano de abertura do espaço: da Architectural Masterprize, da MUSE, da A’Design Award and Competition, do Archdaily, da Associação Portuguesa de Museologia. Com isto, a vila de Lousada não ficou apenas como lugar de encontro da Rota do Românico mas também como ponto de passagem para arquitectos ou aspirantes a isso.

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O museu

O museu encontra-se dividido em seis salas – por ordem, temos a do “Território e Formação de Portugal”, a da “Sociedade Medieval”, a do “Românico”, a dos “Construtores”, a do “Simbolismo e Cor”, e por fim a dos “Monumentos”. Aconselha-se a que o visitante se demore um pouco em cada uma delas e que as faça na sequência certa, isto é, para quem entra, da direita para a esquerda.

As três salas iniciais são, na minha opinião, as mais importantes para compreendermos a arte românica: nas duas primeiras conhecemos a contextualização em que ela surgiu, quer no que toca à conjuntura histórica de um Portugal em formação e de uma Europa à procura de unidade religiosa, quer no que concerne às relações comportamentais e hierárquicas da vida quotidiana da Idade Média; e na terceira temos um painel interactivo (em touch screen), disposto como uma mesa, com diversas temáticas disponíveis para explicar de fio a pavio o que é que o Românico representou e significou à época.

Quanto à segunda metade da visita, é assumidamente menos informativa e mais dinâmica, o que possivelmente a transforma na favorita da criançada, mas de menor substância para quem procura preencher um vácuo de conhecimento – numa apresenta-se um estaleiro em madeira para percepcionarmos como eram feitos os alçados, ao mesmo tempo que se explica como se organizavam a equipa e os materiais; noutra apela-se à nossa intervenção para que percebamos como a cor marcou profundamente o estilo, o que é hoje lembrança pertinente, já que quase todos os exemplares românicos que sobreviveram até ao presente foram despidos da policromia que antes os caracterizou; e, por último, na sala final há um périplo de curta distância pela evolução estilística no decorrer dos séculos.

Diga-se que quem é nortenho, ou mesmo beirão, por muita gazeta que tenha feito às aulas de história, reconhece decerto o que é uma estrutura românica, nomeadamente se se tratar de uma igreja, de uma torre, de uma ponte, de uma casa. Pode não atribuir ao que vê o termo românico, mas algures nos arquivos da memória sabe que há um lote de monumentos à sua volta com um perfil relativamente homogéneo e que se caracteriza pelo aspecto antigo e medievo, pela austeridade das formas, pela força bruta que transmite, pelo uso abusivo da pedra granítica nas paredes mestras. Neste canto do Vale do Sousa, como igualmente no Vale do Tâmega, há exemplares destes às carradas. E por isso, para esse público que vive na metade setentrional do país, o Centro de Interpretação do Românico virá sobretudo como um aprofundamento de uma coisa que, bem ou mal, já foi interiorizada. Já para quem vem de sul e que não seja versado nestas lides, tudo se apresenta como novidade, e mais atento deve estar às notas introdutórias que se acham nas primeira etapas da visita.

Fundamental é que se saia daqui com noções básicas do que define este estilo – uma linguagem multifacetada que dominou a traça dos edifícios entre os séculos X e XIV naquele que viria a ser o espaço do futuro reino de Portugal. Ou mais do que isso, saber o porquê do Românico na arte da Península Ibérica. Como é que ele cá veio parar e de que forma se distinguiu do original. O Românico foi determinante na defesa de um território e na conquista de outro, na medida em que construiu um património que fascinou e doutrinou as populações e lhes deu alguma coisa por que lutar. As novas e pétreas igrejas funcionaram como depósitos morais e religiosos para as gentes do norte (e com norte entenda-se o território que estava na esfera de influência asturiana e que mais tarde resultou nos vários reinos ibéricos cristãos). Não tenhamos dúvidas: o Românico foi um dos grandes galvanizadores da Reconquista, porque colocou a vitória do cristianismo como mote para o confronto contra o sul islâmico ou, na melhor das hipóteses, o sul moçárabe. Qualquer guerra precisa de causas, e as causas necessitam de traduções materiais que as tornem mais uma realidade do que uma ideia.

Tendo isto como ponto de partida, podemos depois ir ao bolo, que são os próprios monumentos. Para isso, é seguir a já mencionada Rota do Românico. E ir até além dela.

Arco de sala do Românico no Centro de Interpretação do Românico

Efeito de luz e sombra na sala do Românico

Réplica de estaleiro de construção de igreja românica

A sala dedicada aos construtores exibe um estaleiro

Um dos muitos portões de acesso às Honras feudais

Lousada

Um curto roteiro histórico com o melhor de Lousada. Surpreendentes destinos, saborosos repastos, sossegadas dormidas.

Promoções para dormidas em Lousada

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=41.27864​; lon=-8.28335

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