Castelo da Nóbrega

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É sem grande assombro que se sabe que o Castelo da Nóbrega (ou Castelo de Aboim) se desenrolou a partir de um castro, isto é, de uma fortaleza alçada por tribos autóctones, muito provavelmente galaicas, usada nas guerras internas e no combate à intromissão romana posterior. A história da maioria dos nossos castelos obedece a essa história, havendo ainda, dependendo da geografia, a variável sueva, visigótica, ou sarracena, entre outras possíveis, que eventualmente se juntam à cronologia que antecede a fundação da nacionalidade.
Todavia, não desvalorizando a época pré Afonsina, aqui importa falar desses tempos onde a ideia de Portugal já marinava. E de caminho, conhecer as então tidas como Terras da Nóbrega, verdadeiro antepassado do concelho de Ponte da Barca pois a este corresponde nas fronteiras se retirarmos ao actual município barquense a zona de Lindoso e juntarmos um quinhão do concelho de Vila Verde.
O castelo que já não é
Sobre o castelo, aviso desde já os caminhantes que a ele se fizerem com expectativas de encontrarem alterosa fortificação: está praticamente desaparecido. Mais digo, em nome da verdade, que até as ruínas, embora presentes, são difíceis de encontrar, quer as da torre, quer as da cerca. Que isto não retire apetite a potenciais visitantes, para mais agora, que temos a hipótese de cá chegar através de uma estrada que rasga o monte pela vertente sul.
Mais do que uma praça-forte, o Castelo da Nóbrega é hoje um miradouro, ou antes, um mirabarca. E um mirabarca porque dele se compreende a razão dos limites orográficos da concelhia de Ponte da Barca serem os que são – a sudoeste e a oeste com o surgimento da Serra do Oural e sua esteira, a norte com o limite natural do rio Lima, e todo o flanco leste com a magnitude da Serra Amarela e do seu rasto de colinas para ocidente (sendo uma dessas colinas precisamente esta, a que guarda a memória do Castelo da Nóbrega). Tudo isso se percebe daqui, de um castelo que já não é, mas que quando foi via quase todo o Minho.
Curioso é que ainda hoje os tais limites municipais dêem que falar e que o foco da discussão seja exactamente neste ponto, no Castelo da Nóbrega. Com efeito, Vila Verde e Ponte da Barca disputam a posse da fortaleza há décadas. Dizem os de Ponte da Barca que o castelo é oficialmente barquense. Do outro lado, defendem os de Vila Verde que a fronteira parava precisamente a meio do bastião, e que portanto este pertencia aos dois municípios, ou pelo menos assim foi até Ponte da Barca ter empurrado a fronteira, sem autorização, uns metros mais para sul, garantindo a gestão turística do monumento. Daqui decorre que os barquenses se refiram a ele como Castelo da Nóbrega e os vila-verdenses, por orgulho bairrista, prefiram a designação alternativa de Castelo de Aboim, dado Aboim da Nóbrega ser uma das suas mais históricas povoações.
O seu obreiro parece ter sido D. Ourigo Ourigues, tratado muitas vezes como o Velho da Nóbrega, homem da confiança do primeiro rei português, D. Afonso Henriques. Encontramos em D. Ourigo Ourigues, mais uma vez, um exemplo dessa nobreza guerreira do Entre-Douro-e-Minho, elementar no apoio à independência portucalense. Tratou de ajudar militarmente o Conquistador, sobretudo com a participação na Batalha de São Mamede que opôs Afonso Henriques à sua mãe, D. Teresa. E, como recompensa, terá sido o primeiro monarca do Reino de Portugal a autorizar Ourigo Ourigues a levantar o Castelo da Nóbrega sobre os alicerces do arruinado castro que aqui se encontrava. A adaptação medieval que impôs às muralhas castrejas já existentes transformou o reduto na sede militar das tais Terras da Nóbrega descritas acima, corria então o século XII.
O Castelo, está bom de ver, vigiava a estrada que de Braga se esticava até aos limites do recém-formado reino. Protegia, desta forma, comerciantes e soldados e fidalguia dos ataques vindos do norte, da Galiza dos Travas, já então subjugada a uma centralização de poder na figura do rei Afonso VII que viria a ser rei da Galiza, rei de Leão, e rei de Castela – um começo do que depois chamaríamos de Espanha. A função marcial do monumento manteve-se por centúrias – era, sobretudo, uma cidadela que firmava a fronteira do norte do Minho com a Galiza, aproveitando as assimetrias de relevo junto à cordilheira que actualmente conhecemos como o Parque do Gerês (ou Xurês, do lado galego).
Gradualmente, o Castelo da Nóbrega foi perdendo importância assim que um outro burgo começou a dar que falar: Ponte da Barca, lugar à beira do rio Lima onde uma ponte foi construída na primeira metade do século XV para facilitar a travessia de quem vinha das serras interiores. O castelo, ou parte do que de si restava, revelar-se-ia ainda útil por ocasião das Guerras da Restauração que opuseram Portugal a Espanha durante o século XVII. Depois disso, perdido o seu propósito, e isolado de um pólo urbano digno (Ventoselo é a aldeia mais próxima, situada no sopé ocidental do morro, e mesmo assim não deve ter mais de três dúzias de casas arrumadas em torno de uma capela), foi-se deteriorando com a irreversibilidade do tempo.

O grande penedo do Castelo da Nóbrega

O cume de onde tudo se via

Vista para norte e para a Serra Amarela

A vista sem fundo…
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Mapa
Coordenadas de GPS: lat=41.77085 ; lon=-8.37437