Cascatas de Rompecias

Em boa parte dos mapas, as Cascatas de Rompecias aparecem como Cascatas de Santa Eulália ou Quedas de Água de Requeixos. Foi o Júlio César Ferreira, vizelense de gema que tive a honra de entrevistar, que me fez a emenda ao dizer que, na verdade, elas se chamavam Cascatas de Rompecias – o alargamento a Santa Eulália é mais por esse ser o nome da freguesia onde estão e Requeixos vai buscar a denominação à povoação mais próxima daqui.

As cascatas enquadram-se num desnível da ribeira de Sá, uma corrente de águas impolutas que, ao chegar ao rio Vizela, injecta alguma translucidez num curso fluvial que ainda carrega consigo a cor turva da inconsciência industrial e doméstica – ainda assim, valha a verdade, o Vizela está bem melhor agora do que há duas ou três décadas.

As cascatas, o passadiço, e o segredo que se perde

Foram, durante décadas, um refúgio de Verão que só pertencia a quem era do concelho, porque pouca era a gente que sabia da sua existência, e quase nenhuma a que se esforçava para lá chegar. Mesmo para aqueles que estavam a par do seu paradeiro, as Cascatas de Rompecias não ficavam propriamente a um saltinho de distância – a ida obrigava a uma pernada entre veredas de mato denso e declive pronunciado.

Os novos passadiços que agora se inauguram, em Março de 2024, isto é, no exacto mês em que escrevo, põem um ponto final no mais belo sigilo natural de Vizela. O actual passeio entabuado vai furando silvado enquanto acompanha o ribeiro, e leva qualquer pessoa que sofra da maior preguiça até ao certeiro lugar onde a água desaba sem qualquer dificuldade.

É sempre um sentimento misto, este de vermos um lugar de poucos ficar de muitos. Talvez seja a incerteza do que aí vem que assusta, uma dúvida que se cria sempre que há uma democratização dos segredos, como é o caso.

Não obstante, a estrada pedestre recém montada acaba por ser uma boa maneira de mostrar um outro lado do concelho, mais bucólico, afastado da concentração de prédios e asfalto do núcleo central, onde a freguesia de São Miguel e de São João se tocam, junto à Praça da República. E afinal, para quem tem uma alma escuteira dentro de si, pode então ir mais além para tentar perceber como é a ribeira de Sá para montante das quedas de água. Aí, sim, estamos a sós. E novos esconderijos aparecem. Casas abandonadas. Azenhas em fim de prazo. Se calhar, até, novas quedas de águas como estas Cascatas de Rompecias, que começam por ser destinos exclusivos dos que têm espírito aventureiro, para um dia, com novos acessos, se tornarem património de todos.

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