Cabeça Relicário de São Fabião

by | 3 Mai, 2016 | Baixo Alentejo, Insólito, Lendas, Províncias

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Uma estranha relíquia de prata, com possível origem nos meados século XIII, representando uma cabeça à escala humana, foi descoberta em Casével, aldeia próxima de Castro Verde, no Baixo Alentejo. Se isso não fosse já insólito o suficiente, houve surpresa: dentro dela, colado ao interior da prata, escondia-se um crânio humano.

Sopro mágico

Na altura, e estamos a falar do muito próximo século XX, os locais reavivaram memórias que lhes foram passadas por gerações anteriores, e não tiveram dúvidas: tratava-se da cabeça que, antes, se encontrava exposta numa janela da sua igreja matriz, e aquele rosto era o de São Fabião, o Papa martirizado pelo Império de Roma, numa altura em que o paganismo ressurgiu e afrontou a avalanche cristã.

Quem elaborou a Cabeça Relicário de São Fabião parece ter querido fazer dela isso mesmo, um objecto mágico, que desobstruísse a imaginação ilimitada do povo, para que este fizesse dela o que quisesse.

O nariz foi perfurado na zona das narinas e a boca também conta com um picotado de buracos, tal como os ouvidos, substituídos por o que parecem ser trevos, cada um com um pequeno furo. Daí surgiu a crença. Segundo a pequena comunidade que por aqui vivia, esta relíquia tinha propriedades curativas – os seus ouvidos buscavam os lamentos dos animais, o seu nariz pressentia as doenças que os ameaçavam, e a sua boca cuspia um sopro milagroso que os curava. E confirmaram ser frequente, num passado não muito longínquo, pastores passarem os seus rebanhos junto a ela para que o seu gado ficasse livre de maleitas. Em tempos mais antigos há registos de a transportarem para prados com o intuito de com ela se benzer o gado.

Em contrapartida, estudiosos dão como hipótese a utilização desta relíquia para fins curativos por parte de um saludador – uma espécie de mezinheiro institucionalizado e de boas intenções, ao contrário do que o imaginário popular faz dos bruxos, aliados do diabo. A ser verdade, isso poderia servir de explicação para o crânio que se encontra encarcerado dentro da máscara, já que não raras vezes, populares reutilizavam e enclausuravam este órgão dos saludadores para poderem continuar a usar o objecto enquanto activo curandeiro. Estes actos, sempre vistos com alta desconfiança por parte do clero, tornaram-se intoleráveis quando a Inquisição apertou, correspondendo esse momento àquele em que a cabeça-relicário entrou em espaço eclesiástico para não mais sair em profanação.

Encontra-se agora presa como tesouro sacro na Basílica Real de Castro Verde, impossibilitada de mostrar os seus dotes milagrosos aos poucos pastores que ainda sobram.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=37.69779​; lon=-8.0819