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O que justifica uma árvore (ou arbusto) que ora tem Portugal ora tem Lusitânia no nome, ser tão pouco falada por cá? Não será pela sua falta de beleza, com certeza. Nem pela falta de história – o Azereiro (Prunus lusitanica) é das poucas espécies que escapou ao avanço do gelo Europa abaixo.

A sua frondosidade pode ser atestada em alguns nichos montanhosos do país, nomeadamente no Minho, nas Beiras (sobretudo na zona mais interior da Beira Litoral), e em Trás-os-Montes.

Características

Um Azereiro velhote e silvestre terá, em média, uma altura de sete ou oito metros. Eventualmente, pode chegar à dezena. Isto descontando os que são cultivados – nesse caso as medidas facilmente dobram.

Uma coisa salta à vista quando olhamos para um: a folhagem, bem verde e bem densa. Está presente todo o ano, sem falhas nos meses frios, lustrosa e luzidia. Nisso, assemelha-se ao Loureiro com o qual é bastantes vezes confundido – os galegos têm por hábito apelidar o Azereiro como o Loureiro Português -, embora este deite um aroma de fácil identificação (o cheiro do Azereiro, pelo contrário, não é propriamente sentido, a menos que se tenha nariz bem treinado).

As flores, uma malha branca que sai à rua por volta de Maio, têm formosura suficiente para que outros países – Estados Unidos, Canadá, até Austrália – peguem em Azereiros e os transformem em ornamento, hábito que não é feito por estas paragens, vá lá saber-se porquê.

O seu fruto (drupa) passa de verde, a escarlate, e termina bem escuro. É conhecido por conter cianeto de hidrogénio – há quem o coma em doses muito reduzidas mas mesmo o seu sabor, excessivamente amargo, não é convidativo. Quem parece não se importar muito com a toxicidade nem com o amargor são algumas aves que o bicam sem temor.

Distribuição do Azereiro

As florestas Laurissilvas subtropicais que foram abaladas na última glaciação foram paulatinamente devastando as manchas de Azereiros noutras latitudes europeias. Sobreviveu em pequenos canteiros mediterrânicos, húmidos quanto baste e não excessivamente frios. Isso explica que o Azereiro, enquanto silvestre, e se esquecermos Portugal, ocupe apenas pequenos espaços do sul de França, núcleos de algumas cordilheiras espanholas, e certas altitudes de Marrocos. É, pois, uma espécie claramente endémica do Mediterrâneo ocidental.

Em Portugal, sublinhando o seu gosto por bosques húmidos e nevoeiros matinais, concentra-se nas serras do centro e do norte, maioritariamente em médias altitudes e junto ao curso de ribeiras e riachos – diz o povo que o Azereiro gosta da água mas não de se molhar.

No Minho, por exemplo, pode ser encontrado nas encostas do Gerês viradas a sul. Nas Beiras, talvez as províncias onde seja mais comum vê-lo, conglomeram-se na Serra da Lousã e na Serra do Açor, em torno das famosas Aldeias do Xisto, e com grande incidência na Mata da Margaraça. Está intimamente relacionado com o rio Zêzere, de resto bem observável pelo pela proximidade dos nomes, sendo ainda hoje discutível se é o Zêzere que vem de Azereiro ou se é Azereiro que vem de Zêzere.

Há duas outras subespécies de Azereiro, azorica e hixa, que se concentram nos Açores e na Madeira, respectivamente.

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Usos e Costumes

O Azereiro tem uma utilização frequente enquanto peça de jardinagem, mas não em Portugal, onde curiosamente é onde ele mais existe em ambiente selvagem. Casa de ferreiro, espeto de pau… De facto, são vários os países que pegam nele enquanto planta exótica, não nativa, concebendo-o como taipa, uma sebe viva para estruturar pátios e jardins. A sua beleza aliada à espessura da copa fazem dele uma excelente parede.

Por cá, há quem lhe lapide o tronco, que é firme, para transformar em determinado tipo de artigos, sobretudo bengalas. Conta-se que alguns pastores dão outro uso ao tronco – a casca, bem empregue, servirá para proteger o gado de certas maleitas menos previsíveis.

A um nível industrial, tem sido posta a hipótese de o usar no mercado dos fármacos como possível embelezador e protector de pele.

E recentemente, muito a propósito das alterações climatéricas que enchem páginas de jornais nos dias que correm, pensa-se no Azereiro como um condicionador de clima: a sua presença pode ajudar a criar pequenos microclimas, acrescentando-lhes humidade… um possível desígnio para uma planta que, curiosamente, é uma sobra de uma brusca alteração climatérica.

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