Ponta do Sol
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A multiculturalidade – feita de, por exemplo, ingleses, escandinavos, judeus e africanos – contribuiu significativamente para o desenvolvimento e sucesso da localidade. Hoje, é um concelho que vive essencialmente do setor primário, destacando-se o cultivo e comercialização da banana, cana de açúcar, horticultura e floricultura, criação de gado e lacticínios. Tem registado também uma forte evolução no turismo, sendo a Ponta do Sol um destino muito procurado na região autónoma por via do seu clima ameno e quente, bem como pelas belezas naturais que por ali se descobrem.
Ponta do Sol
O povoado da Ponta do Sol surgiu no século XV e desenvolveu-se bastante depressa devido à fertilidade das suas terras e do seu porto de mar. Já antes de 1486 havia ali uma igreja, a de Nossa Senhora da Luz, cuja construção se atribui a Rodrigo Anes, um dos primeiros colonos. O povoado foi elevado à categoria de vila a 2 de dezembro de 1501, em virtude da respetiva prosperidade económica e pelo aumento exponencial da população. Não devemos descurar que, na época, as plantações de cana de açúcar e igualmente as de cereais, nomeadamente a do trigo, detinham um peso forte na economia do concelho.
Passaremos a enumerar alguns monumentos testemunhos do passado histórico do concelho.
Em plena vila da Ponta do Sol situa-se a Igreja Matriz dedicada a Nossa Senhora da Luz, mandada construir em finais do século XV. A sua fachada foi reconstruída no início do seculo XVIII, tendo por escopo o avanço do corpo da Matriz, juntando-se-lhe um portal maneirista. No seu interior conserva uma pequena capela em honra de Nossa Senhora do Patrocínio, mandada construir por Rodrigo Enes, em testamento datado de 1486.
No sítio do Lugar de Baixo, também localizado à beira-mar, acha-se a capela de Santo António cujo frontispício é rasgado por um portal de estilo maneirista em cantaria vermelha regional. Nada se sabe sobre a data da sua edificação devido à falta de registos.
O sítio da Lombada dá lugar à capela do Espírito Santo, hoje conhecida como Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Foi mandada fazer junto ao solar dos Esmeraldos, numa encosta que passou a ser conhecida como a Lombada dos Esmeraldos pela influência nobre dessa família. A construção data de finais do século XV (1494). Já no século XVIII sofreu uma renovação, completamente ampliada e reedificada, passando a ostentar características do estilo barroco. O seu desenho rebuscado apresenta um portal com um arco trilobado, único do género na ilha da Madeira.
Na freguesia da Madalena do Mar, também fronteira ao mar, situa-se a igreja de Santa Maria Madalena, tendo sido ela construída onde primitivamente existia uma ermida. Ao que nos chega, foi erigida a mando de Henrique Alemão, o cavaleiro de Santa Catarina que, segundo reza a lenda, seria Ladislau IV e rei da Polónia.
São ainda dignos de referência os monumentos estabelecidos na Freguesia dos Canhas: monumento a Santa Teresinha do Menino Jesus, edificado nos anos cinquenta do século passado; Passos da Via-Sacra; Senhor da Montanha e Nossa Senhora da Serra, na estrada que leva ao Paúl da Serra. Como a freguesia dos Canhas está localizada na parte alta do Concelho, fica a meio caminho entre o mar e o Paúl da Serra, planalto escolhido por muitos para passeios e aventuras na natureza, e de cujo território o Município da Ponta do Sol detém grande parte.
O património imaterial da Ponta do Sol
No que respeita ao património oral e tradicional da Ponta do Sol, para além da riqueza de cantares, bailinhos e modinhas folclóricas, abundam ditos e contos, tanto oriundos das lendas transmitidas via oral, como acontece em outros concelhos madeirenses, quanto baseados em acontecimentos tidos a priori como reais. Propomos para pequeno deleite o conto “O rapazinho da Lombada”, ao que nos parece uma transcrição verídica da história de um rapazinho que viveu no sítio da Lombada oitocentista. Ora, esta narrativa foi recolhida, escrita e editada por D. Mariana Xavier da Silva, vivente na Madeira aquando da década de 70 do século XIX. A referida leitura segue neste link que mui recomendamos.
Também aconselhamos a leitura do próximo conto, recolhido pelas nossas mãos na freguesia da Tabua, que hoje pertence ao concelho da Ribeira Brava, mas que, até ao princípio do século XX, designadamente 1914, data em que foi fundado o concelho da Ribeira Brava, era parte da Ponta do Sol, concelho com o qual convive geograficamente e cujas semelhanças ao nível do vocabulário oral são incontornáveis, nomeadamente porque o sítio dos Zimbreiros, a sua localidade mais a oeste, encosta-se ao Sítio da Lombada. Deliciemo-nos com a lenda, de nome “Cada um tem o que merece”:
“Era uma vez uma senhora velhinha que vivia sozinha no bosque. A aldeia pertencia ao reino de um rei muito presunçoso e prepotente.
Quando queria impressionar os habitantes do reino, o rei dava festas e, em troca de bajulação, oferecia-lhes prendas e palavras ocas. Ora, a velhinha não alinhava nas artimanhas do rei, e dizia cantando: «Cada qual tem o que merece».
O rei, quando ouviu dizer isto, passou a nutrir ódio por ela. Um dia, promoveu mais uma feira e convocou os aldeãos, mas a velhinha não apareceu. Então o rei mandou cozinhar e envenenar um bolo e enviá-lo à senhora, na esperança de fazê-la quebrar. E assim o fizeram.
Quando a senhora recebeu o bolo, colocou-o no armário e reservou-o para melhor oportunidade, mas ficou com a pulga atrás da orelha. Ora, quando se preparava para ir dormir, bateram à porta e esta, ao abrir, deparou com um rapaz que andava perdido na floresta e que se identificou como príncipe, o filho do rei. Abaladíssimo e com muita fome, pediu ajuda à dona da casa. Esta, muito solícita, ofereceu-lhe a mesa e o bolo do palácio, dizendo: «Aqui tendes, meu menino, o bolinho da casa do seu paizinho». Ele comeu até que se revirou com dores no estômago. Nisto, a senhora, vendo que era de mais, (mas percebendo a cilada) mandou pedir ajuda ao palácio, dizendo que se tratava do príncipe. Acudiram depressa e trataram de levá-los ao palácio. Conseguiram salvar o príncipe com a ajuda da velha, e o rei convidou-a a ficar a dormir lá, mas ela não aceitou e foi para sua casinha pobre, dizendo que ia fazer o jantar. Uma vez em casa, começou a cantar:
«Minha casinha, meu lar,
Meu pucarinho de água a aquentar,
Ferve, ferve minha panelinha,
Não há casa como a minha,
Peidos para o senhor rei
E bufas para a senhora rainha»
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=32.68188; lon=-17.0914