Nomes-tipo da Madeira
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Diante da imagem da ilha da Madeira, ela acorre-nos ao pensamento como o modelo do lar, da família, da ternura filial e dos viveres íntimos. É no seio de uma existência simples e honesta que verdejam muitas comunidades e costumes da ilha. A muitas destas comunidades reserva-se tendencialmente o fenómeno da distribuição de alcunhas representativas, por um lado de famílias, por outro lado de sujeitos (que podem estar ou não desvinculadas da identificação familiar), geralmente reconhecidas na identificação etnográfica da sua recolha. Estes nomes-tipo ilustrativos, também lidos na sua especificação lexical, a alcunha, são por norma herdados de avós e bisavós amiúde, quase como uma forma de ficcionar uma determinada pessoa, ou conjunto de pessoas, da comunidade, com possibilidade para convertê-la(s) numa espécie de personagem, que pode prolongar no tempo a identificação da sua família.
A bem-humorada morfologia de algumas alcunhas que vamos citar surge geralmente associada à labuta do sujeito a quem ela se destina, podendo, não raras vezes, nascer de uma imagem pitoresca por meio da qual este sujeito é dado a conhecer dentro da comunidade. Para melhor ilustrarmos esta situação, propusemo-nos a recolher vários nomes dentro de um especial burgo na ilha da Madeira, de cuja identificação nos iremos abster. Fica, então, a proposta para pensarmos esta pequena comunidade como fantástica entre outras tantas da mesma natureza pelos nomes que se seguem, elencados de A a Z.
Os nomes-tipo
Arranha-Gatos
Bagalá
Bai-dai
Baila
Balema
Banzana
Barbas
Barco
Batateira
Beira
Belicão
Bilhé-cu
Bilhelha
Bolas
Boneca
Bufa
Cabinho
Caga-Levadas
Caixinha
Capitão
Castanholas
Cessa
Cinta
Cinzeiro
Coroa
Cuque
Da Ponte
Da Volta
Desarmado
Doutor
Engarrão
Fanado
Fava
Feiticeiro
Feitor
Fiscal
Flor
Foguete
Força
Fura-Bardos
Furão
Gaioto
Galo
Garé
Gavião
Gio
Gordo
Invejão
Japão
Juiz
Leitão
Luzinha
Malhico
Mama-Verde
Mania
Mano-Gavião
Mano-Veneno
Maria-Velha
Marreco
Mata-dois
Miné
Mira
Moco
Moderno
Nabo
Ovelhinha
Papa
Patudo
Pedrada
Peúga
Pinguiça
Podengo
Pompa
Porraça
Portaló
Prego
Quebra-Santos
Quico
Rato
Rebeca
Rei
Robança
Sã-Beleia
Semilheira
Serra d’Água
Sete
Soldado
Tato
Telinga
Ui
Variado
Xape
Xarape
Zangue
Vale reconhecer a variedade onomástica que se nos apresenta bem como a originalidade de que se revestem os nomes mais caprichados. Deve-se, pois, acrescentar que a estes nomes-tipo precede o respectivo artigo definido, como se pode ver no exemplo ‹‹o Juiz tem uma casa nova››; ou, no caso de se fazer referência para um descendente da pessoa com alcunha, a forma correcta do uso da alcunha parece ser a da identificação através do artigo definido mais a preposição contraída, ambos precedentes à alcunha, reconhecida como, por exemplo, nas expressões ‹‹a (filha) do Pompa››, ‹‹os (netos) do Quebra-Santos››, ‹‹a (neta) do Luzinha›› e assim sucessivamente. Como nota final, esperamos que este índice de versatilidade e idiossincrasias possa votar-se à memória e à propagação de algumas existências singulares que povoaram e ainda povoam a região.