Linhares da Beira

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Situada a uma altitude de 180 metros de altura, na meia encosta da vertente nordeste da Serra da Estrela, Linhares é uma das aldeias históricas de Portugal, e o adjectivo “histórica” faz-lhe jus tendo em conta os eventos históricos de que fez parte.
Desde o seu icónico castelo, símbolo de Linhares, situado a 800 metros do nível do mar, que se impõe como um titã guardião visível por toda a aldeia, até às suas casas e ruas de granito, toda a atmosfera e ambiente de Linhares nos leva a uma viagem no tempo até ao período medieval. É fácil imaginar cavaleiros a passarem pelas ruas montados nos seus cavalos, pelo meio de camponeses e mendigos, enquanto princesas e a suas aias se passeiam em volta do castelo, e as trompas a soarem quando inimigos sarracenos ou leoneses se aproximam.
Linhares da Beira é uma aldeia histórica que proporciona uma autêntica viagem no tempo à Idade Média e nos embrenha na sua atmosfera, adornada pela sombra imponente do seu castelo.
Além da casa-tipo de granito que está polvilhada por toda a aldeia, é possível encontrarmos um Largo da Misericórdia, com um antigo hospital e albergaria que ecoam um passado de abrigo a peregrinos e enfermos, assim como uma antiga tribuna onde em tempos terá havido um fórum para discussão sobre os assuntos da vila, e como não podia deixar de ser, existe também um pelourinho e diversas fontes. Outros pormenores são ainda visíveis ao olhar mais atento, como as casas mais nobres e sumptuosas, que terão pertencido à nobreza, e aqui e ali janelas e portas de estilo manuelino. É ainda de ressalvar a presença de uma antiga judiaria, que assinala que aqui terá existido uma comunidade judaica substancial. Todos estes pormenores enriquecem a atmosfera de Linhares e acentuam ainda mais a viagem no tempo que esta proporciona.
História
A história de Linhares é uma história de vários povos, invasões e conflitos, e isto acentua ainda mais o quanto interessante é a vila. Crê-se que o primeiro povoamento que mais tarde se tornará Linhares teve origem com os Túrdulos entre 580 a 500 a. C. e mais tarde foi um castro Lusitano, pelo menos até ao séc. III a. C. Eventualmente este castro foi conquistado pelos Romanos e ganhou o nome de Lénio ou Leniobriga (possivelmente um nome já herdado dos Lusitanos visto o sufixo “-briga” ter uma origem linguística relacionada com línguas celtas ou aproximadas ao celta). Terá sido considerado um ponto importante para os Romanos visto Linhares ser um dos pontos que constituem a Geira Romana, a estrada de ligações romana, que neste caso permitia a ligação com Mérida e com Braga.
Com a queda de Roma e a chegada dos Visigodos à Península (séc. VI e VII), estes fizeram de Linhares um centro religioso, tornando-a sede de diocese. Mas como todos sabemos, mais tarde sucedeu a invasão moura, o que destabilizou a vida das populações de Linhares. No entanto, Linhares mais tarde foi novamente recuperada aos mouros por D. Afonso Henriques em 1169, o qual lhe deu o primeiro foral. Talvez tenha sido por esta altura que ganhou oficialmente o seu nome, relacionado com a cultura do trabalho do linho, que era rica na vila.
Mas a história de conflito em volta de Linhares não se ficou por aqui, pois em 1198, durante o reinado de D. Sancho I, leoneses invadiram a região e prepararam-se para atacar Celorico da Beira. Linhares foi em defesa de Celorico e obrigou à fuga do inimigo, o que deu origem a uma fama de bravura à população de Linhares e a lendas em volta deste evento histórico, das quais falaremos adiante. Terá sido por esta altura histórica que o castelo foi construído, e mais tarde renovado durante o reino de D. Dinis.
Lendas
A rica história de Linhares e as invasões e conflitos em que se viu envolvida levaram a que o povo e o tempo gerassem na tradição oral diversas lendas que reflectem essa história, e em geral estas enaltecem a bravura do povo de Linhares. Logo em relação à invasão moura, reza a tradição, e possivelmente com alguma base histórica, de que um rei mouro de seu nome Zurar teria construído uma fortificação em Azurara, perto de Mangualde, e usava-a como base para aterrorizar as regiões circundantes, inclusive Linhares. Isto levou a uma revolta por parte dos habitantes de Linhares, que decidiram enfrentar o rei mouro, e destruíram a fortificação, obrigando o rei mouro a fugir, e erigindo no local uma Igreja que ainda hoje lá se encontra. Em honra desta lenda ou mesmo possível acontecimento, costumava haver uma romaria até ao local, e no topo de um monte agitava-se um estandarte na direcção de Linhares e gritava-se: Victor Linhares!
A batalha de Celorico contra os Leoneses que foi vencida graças ao apoio de Linhares também gerou uma lenda. Esta conta a história de um fidalgo de seu nome D. Pedro da Silveira, o qual era um veterano da conquista de Linhares aos mouros ao lado de D. Afonso Henriques. Este tinha-lhe tinha oferecido largas terras em Linhares, pois ele e outro guerreiro, D. Paio de Meneses, tinham sido os mais valorosos na batalha de Linhares. Para além disso, D. Pedro tinha ainda recebido de D. Afonso Henriques uma espada, sob a obrigação de uma promessa, que tal espada fosse entregue ao seu companheiro de armas D. Paio caso este falecesse. Depois a espada seria entregue ao filho varão mais velho de um dos dois companheiros em caso de morte dos dois, e assim por diante sendo entregue de família em família. Estando agora já idoso e a sentir que ia falecer, D. Pedro incumbe o seu filho D. Afonso de ir entregar a espada a D. Paio, ao qual D. Afonso Henriques tinha atribuído terras em Celorico da Beira. Este assim o faz, e é recebido de braços abertos por D. Paio, que o apresenta à sua jovem filha Lídia, por quem D. Afonso se enamora. Mais tarde, estando o casal enamorado no alto de uma torre, D. Afonso avista à distância os exércitos leoneses a aproximarem-se de Celorico, nisto alerta Lídia do perigo eminente, e parte imediatamente para Linhares para buscar o auxilio do seu povo. Chegado a Linhares, conta tudo a seu pai, que tendo o dom da palavra, convence todos os homens capazes de Linhares a partirem em auxílio de Celorico, e assim o fazem. O exército de Linhares chega a Celorico durante o cair da noite, em plena lua cheia, e derrota os leoneses obrigando-os a fugirem. D. Afonso é recebido com amor por Lídia e admiração pela sua bravura, e um dia a espada volta à sua mão. Diz-se que é devido a esta lenda que o brasão de Linhares contém a lua e cinco estrelas.
Mas para além das lendas sobre a bravura das gentes de Linhares, existe ainda uma outra relacionada com uma tema bastante mais obscuro, e que se refere a uma figura do nosso folclore popular: a dama pés de cabra. Ora esta lenda reza que vivia em Linhares uma senhora sozinha de seu nome Dona Lopa, e para combater a solidão esta contratou uma criada. Porém, com o tempo Dona Lopa começou a adoecer. Sentindo que ia falecer, mandou chamar um frade ou um padre para se poder confessar. Ora, por esta altura, estava o Santo António a passar por aquelas paragens, e foi chamado à casa de Dona Lopa. Ao chegar, sentiu que algo estava errado na casa, e disse a Dona Lopa que não aceitava a sua confissão até ela chamar a sua criada. Quando esta vem à sua presença, o Santo António atira-lhe farinha para os pés, o que revela que a criada tinha pés de cabra! Era uma presença demoníaca. O Santo António realiza então uma série de exorcismos que levam a criada a fugir para o quintal de Dona Lopa, onde levita no ar, gritando “APRE!”, e rebentando de seguida numa nuvem de enxofre. Dona Lopa recuperou a vitalidade nos meses seguintes, mas talvez algo tenha ficado da presença demoníaca, pois uns anos depois de falecer, diz-se que aparecia o seu fantasma à janela da casa. De facto a casa de Dona Lopa encontra-se ainda em Linhares, e tem um nicho na fachada com uma estatueta de Santo António em honra da lenda. Diz-se ainda que se se procurar bem no quintal da casa, se encontra a palavra “APRE” gravada numa pedra.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=40.54024; lon=-7.45896