Ilha da Armona

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Na Ria Formosa, para lá das penínsulas, das barras, das ilhotas, das vasas e das línguas de areia, há cinco ilhas que se mantêm firmes mesmo quando a maré sobe. Do lado nascente, temos a Ilha de Cabanas e a Ilha de Tavira. Do lado poente, estão a Ilha da Barreta e a Ilha da Culatra. No meio, o sítio da virtude, fica a Ilha da Armona, praticamente defronte da cidade de Olhão, talvez a mais veraneante do lote.
A viagem até lá faz-se de barco. Apenas de barco, acrescente-se, seja no económico ferryboat, seja no exclusivo barco-táxi. Carros ou derivados estão proibidos de entrar a menos que exista alguma função de serviço público que a eles esteja destinado. E os pontos de acesso estão distribuídos por três cais no Algarve continental: Olhão (a primeira escolha, pela regularidade dos horários e pela proximidade), Faro (mais afastado e com opções invariavelmente mais dispendiosas), e Fuseta (esta última com a hipótese de se entrar na ilha pelo lado oriental).
Quanto ao resto, e porque sei que quem pesquisa pela Armona quer simplesmente saber sobre as suas praias, farei a desfeita de guardar isso para o final. Primeiro, fale-se da ilha. Depois, pacientemente, vamos ao bolo.
Da pesca ao turismo
A face piscatória da Ilha da Armona só fica realmente visível de Outubro a Abril, quando a procura por sol cai e o pequeno vilarejo que se aguenta em sensível e pantanoso areal fica quase desprovido de outras línguas que não o português.
Nessa altura, a Armona de outros séculos vem à tona. No meio de cinco dezenas de pessoas, os estrangeiros são pouquíssimos e esforçam-se por compreender os maneirismos da pronúncia algarvia. Os ditos nativos, também poucos, orientam o seu dia em função da praia-mar e da baixa-mar. Sobressai o carácter insular – um lugar ermo, inóspito, sujeito às forças do vento e do oceano. Quem lá vai em dias invernais, pensará que dificilmente ali acorrem milhares de pessoas meses depois, em busca de nada mais do que sol.
Nem todo o Algarve é assim. No lado continental, há cidades como Albufeira ou Portimão onde as ondas de turismo se contêm, mas nunca vão a zero. A Armona, contudo, vive os dois mundos – num canto, a Armona austera, ventosa, vazia; no outro, a Armona urbana, colorida, festiva. Uma conta com boa parte das casas desocupada e quase toda a restauração de porta fechada. Outra vê a taxa de ocupação acima do aconselhado e todo e qualquer alpendre com gente à mesa a aguardar novidades do churrasco.
Compreende-se, assim, a desconfiança nos olhos de quem lá vive 365 dias por ano. É a cara de quem sabe que ali há praia irrepetível mas também há mar picado. Que as soluções do Verão não duram para compensar os maus dias de faina do Inverno. E assim sim, vemos a Armona completa, a do turismo, que ajudou muita gente, e a da pesca, submetida a vicissitudes nem sempre controláveis.
A Armona humana e a Armona selvagem
Além da dualidade sazonal Inverno-Verão que a Armona vive anualmente, há uma outra dicotomia na ilha, esta de perfil geográfico.
A Armona que todo o visitante conhece está na sua ponta ocidental, onde as casas se foram construindo – algumas, ao que parece, com duvidosa permissão para isso. É aqui que está o vilarejo, o cais de embarque, o parque de campismo, o parque infantil, a Lagoa dos Patos, e as duas praias mais concorridas – a Praia da Ria, a norte, e a Praia do Mar, a sul. Neste eixo temos um caminho, metade em pedra, metade em madeira, que atravessa a ilha em toda a sua largura. É, contas feitas, a única rua da Armona – o casario amontoa-se em seu torno e o comércio encontra-se quase sempre colado à sua berma.
Na ponta diametralmente oposta está a Fuseta – ainda que pouco servida, tem pequenos poisos com bebidas e área balnear com direito a espreguiçadeira e guarda-sol. Daqui podemos apanhar um barco até à vila propriamente dita, que se fixa já em território continental.
O restante pedaço da ilha é, com todas as letras, deserto. Descontando um punhado de aventureiros ou nudistas, não há vivalma. Rara é a toalha estendida na areia. Raro é o motor a funcionar. Muito eventualmente, poderemos ouvir a avifauna, que como sabemos é vasta na Ria Formosa, e isto se o chilrear não for cortado pelo vento. Estamos em terra de camaleões e pouco mais. Na verdade, a faixa central da Armona é de tal forma despida de vida humana que não é aconselhável lá ir sem abastecimento – uma caminhada até à Fuseta, na ponta oriental, demora pelo menos duas horas, fora o tempo de voltar.
Os residentes e os visitantes
E como não há duas sem três, salta uma terceira bipolaridade que caracteriza a Armona, esta apenas visível durante o Verão – as gentes. Há quem venha visitar a ilha por um dia e há quem alugue casa por uma ou duas semanas e cá pernoite. De um lado, o visitante, do outro, o residente.
O visitante passa quase todo o tempo de que dispõe na praia. Quando percorre o passadiço tem passo apressado porque, mais do que qualquer outra coisa, quer chegar. Numa ilha, está sujeito a horários, e olha para o relógio enquanto pensa se o último ferry do dia ainda permite ter um vislumbre do pôr do sol. Vai embora cansados mas feliz.
Já o residente tem uma relação mais democrática com as praias circundantes. Ora vai, ora não vai. Depende da força do sol ou do corte do vento. Depende do tempo. Depende da hora. Molda o dia a seu bel-prazer. As refeições são à base da brasa e acontecem nas varandas ou nos terraços ou nos alpendres da casa que reservaram uns meses antes. Compram peixe nos supermercados da ilha ou, melhor, vão ao Mercado de Olhão durante as horas de maior calor comprar peixe e marisco fresco. Adormecem sem urgência. No dia seguinte, a praia vai estar no mesmo sítio.
As praias
E enfim, as praias. A zona de banhos da Armona é muito fácil de descrever: no fundo, coincide com toda a orla da ilha. Isto no papel. O problema é que a orla muda conforme os avanços e recuos do mar. Na realidade, se contornarmos a Armona na baixa-mar e fizermos o mesmo na praia-mar, diríamos estar em duas ilhas diferentes. Do nada, um longo areal que estava mesmo à nossa frente desaparece. Um sapal de fácil travessia transforma-se numa lagoa só transponível a nado. Uma língua de terra nasce e cria uma ponte para uma praia provisória.
Difícil, portanto, é descriminar. Quantas praias existem? Quais são os seus nomes? Como chegar até cada uma delas? As respostas não são rigorosas, mas tentarei ser pragmático.

Praia da Armona-Ria
Praia da Armona-Ria
O nome é auto-explicativo. Fica do lado norte da ilha, junto ao cais. Será o primeiro chão que pisamos assim que chegamos à Armona. O mar estagna e, por isso, a água conta com temperaturas mais altas. Contudo, a poluição é maior – aqui assentam os barcos e aqui fica grande parte da restauração. Normalmente está povoada por miúdos que gostam de fazer do pontão uma prancha de mergulho.
Apesar de ser o cartão de visita da Ilha da Armona, é a menos interessante de todas as praias.

Praia da Armona-Mar
Praia da Armona-Mar
A mais procurada. Situa-se do outro lado da Praia da Ria, isto é, fica virada para o Atlântico. A água, portanto, é menos quente e poderá, de vez em quando, ter alguma ondulação, ainda que fraca. Forte, por outro lado, é a corrente, sobretudo durante a praia-mar. Na maré-baixa é frequente vermos crianças de olhos postos na água à procura de conquilhas, comportamento que lhe valeu a alcunha de Praia das Conquilhas.
Dispõe de um bar de praia – de nome Camaleão, numa alusão ao réptil que por cá abunda -, bastante isolado e, quanto a mim, um dos poucos sítios para comer ou beber decentemente na ilha.
As fronteiras da Praia da Armona-Mar são difíceis de definir. Na maioria dos casos, chama-se Praia da Armona-Mar a todo o areal que vai da ponta ocidental até à Praia da Fuseta-Mar, no extremo oriente.

Praia da Barra Grande
Praia da Barra Grande
Uma praia menos oficial mas que qualquer pessoa que lá tenha estado percebe o porquê de ser individualizada.
Na orla virada para a Barra Grande (também chamada Barra do Lavajo) que separa a Ilha da Armona da Ilha da Culatra, um areal que muda de hora em hora cria uma praia de vários feitios. Enseadas tão depressa existem como deixam de existir. Até o acesso a ela vai alternando de natureza – ora pisamos areia, ora lodo, ora água. A meio do percurso podemos dar conta de centenas de caranguejos que, assustados com o nosso passo, regressam às covinhas de areia de onde saíram.
É o lugar predilecto dos fãs de birdwatching.

Praia da Fuseta-Mar
Praia da Fuseta
Fica defronte da vila da Fuseta, uma povoação que mantém a sua tradição piscatória intacta, e, como já se disse, fixa-se na ponta nascente da Armona. O melhor a fazer é ir de barco directamente para lá. Evitam-se os 9 quilómetros de distância entre ela e as praias do lado ocidental. Tem alguns serviços como bar de praia e zona de espreguiçadeiras.
É frequente confundirem a Fuseta como uma ilha per se, independente da Armona. Um equívoco compreensível tendo em conta a distância entre os dois extremos da ilha. Todavia, a Ilha da Fuseta, como alguns a tratam, não é mais do que a continuação para leste da Ilha da Armona.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=37.02473 ; lon=-7.78782