Igreja de São Pedro das Cabeças

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Em oposição a toda a história lendária e milagreira que dança à volta da Batalha de Ourique, pedra angular do Portugal mitológico, existe um templo de cal que se ergue por aquele que a crença acredita ter sido o terreno da peleja, a Igreja de São Pedro das Cabeças.
A Igreja de São Pedro das Cabeças
Pequena, simples, vernacular, assim é o templo que se fixa numa das raras elevações que se põem em bicos dos pés nas extensas planícies do Baixo Alentejo. Como de resto são quase todas as ermidas da região.
Por fora é branca como a neve, por dentro, ainda que de paredes alvas, absorve pouca luminosidade – é alimentada pelos poucos feixes que conseguem entrar através das duas reduzidas aberturas presentes na fachada, uma de cada lado da porta.
Um marco geodésico foi acrescentado mais tarde às traseiras, do lado nascente.
No interior, divide-se em duas partes, bem distinguiveis do lado de fora também: a nave, logo à entrada, e a capela-mor, que afunila ao fundo, de planta quadrangular. O altar-mor que se encontra na capela decora-se com a imagem de São Pedro, ao qual foi aqui adicionado o apelido das Cabeças. Um acrescento estranho mas que pode ter duas explicações: as cabeças dos mouros vencidos, segundo a lenda, na Batalha de Ourique; os cabeços (outeiros) que se dispõem como curtas ondas no chão alentejano, muitos deles santificados com nomes de bem aventurados e encimados por templos agora cristãos – como é o caso presente (aliás, segundo a tradição popular, esta é uma de várias de capelas alentejanas que, por se encontrarem em morros, se diz que se conseguem ver umas às outras, sendo outro exemplo a da Senhora de Guadalupe, já aqui falada).
À volta há a infinitude do sul pré-algarvio, as terras torradas e quentes que se distribuem por quase todo o distrito de Beja.
Origem de São Pedro das Cabeças
A procedência da igreja pega-se a duas narrativas, a já falada lenda da Batalha de Ourique (um dos grandes mitos fundadores de Portugal, muito possivelmente o principal), e a da vinda de Dom Sebastião a estas paragens na segunda metade do século XVI. Se a primeira justifica a escolha do local para a edificação do templo, a segunda explica-nos quem decidiu construí-la.
Parece que foi criada precisamente para homenagear esse choque militar que a mitologia portuguesa glorifica (sobretudo no episódio que se escreveu acerca da ajuda Divina recebida por Dom Afonso Henriques antes do início do confronto) mas que poucos livros de história suportam. Com efeito, a documentação existente que versa alguma coisa que seja sobre um acontecimento bélico próximo daqui é escassa, e toda ela portuguesa, ou seja, não livre da sua parcialidade.
Muitos historiadores indicam a possibilidade de Afonso Henriques ter feito aqui um fossado, como é conhecido na história medieval – algo que funcionaria apenas como uma incursão em terras mouras ou moçárabes com o fim de retirar provisões aos sarracenos e assim deixá-los mais frágeis. Esta alternativa é, obviamente, bem mais plausível do que o relato de uma miraculosa batalha onde pouquíssimos cristãos levaram a melhor sobre uma multidão de milhares de muçulmanos liderados por cinco reis (estes que explicam o símbolo das quinas no escudo português).
De qualquer forma, e isto já sabemos como facto, dos mitos fundadores vai-se alimentando espiritualmente uma nação – todas os têm –, e não é de estranhar que, século após século, cada rei português prestasse o seu tributo ao proto-monarca Afonso Henriques, que nas palavras do saudoso Agostinho da Silva, viu neste espaço um país que antes ninguém tinha visto.
Onde ficar
No centro de Castro Verde tem a hipótese de ficar no Hotel A Esteva, que conta com piscina exterior e os habituais serviços de hotelaria. Para sul, há o recomendável Monte da Ameixa Country House, dedicado aos amantes da natureza, e um dos melhores sítios para gozar a paz do Alentejo e a escolha certeira para os amantes de birdwatching.
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=37.67774; lon=-8.03634