Fonte Velha do Sardoal

by | 13 Fev, 2021 | Fontes e Fontanários, Lugares, Monumentos, Províncias, Ribatejo

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Integrada na Rota dos Cântaros e Cantos, a Fonte Velha do Sardoal é alvo de uma antiga crença. Conta-se que nas suas águas se escondiam dois objectos. O problema é que um trazia fortuna, e o outro trazia o inferno. Pelo sim, pelo não, nunca ninguém quis arriscar a escolha. Até um dia…

A fonte

Antes de irmos à história que, na verdade, é aquilo que mais fama lhe dá, faremos uma brevíssima descrição da pipa em causa.

Apesar de ter perdido a sua função de fornecedora de água à vila, tornando-se gradualmente inutilizada à medida que os avanços da distribuição por rede se faziam sentir, o aspecto que a fonte tem agora não é propriamente velho, a contrariar a adjectivação do seu nome.

O que se vê é, primeiramente, o resultado de uma intervenção no final do século XVIII. Antes disso era um simples poço, e por acaso situado na margem oposta da ribeira, face à posição em que está agora. Em anos recentes foi sujeita a obras de requalificação pela Liga dos Amigos do Sardoal – é assim mesmo, a sociedade civil a funcionar como deve ser.

A lenda

A lenda que lhe é atribuída é a razão para o seu nome alternativo: Fonte da Peste, designação que podemos ouvir de sardoalenses de maior idade.

Contam as gentes da vila que no fundo do tanque da Fonte Velha havia dois tampos de pedra achatada, ambos armados com dois aros que serviam de puxadores.

Cada tampo escondia um pequeno cofre. O problema começava no que cada cofre continha. Um deles guardava um cobiçável tesouro. O outro guardava uma peste contagiosa e mortal.

Como seria de esperar, entre ser rico ou ser responsável por um genocídio, ninguém arriscou ir ao poço da Fonte Velha. Mas há sentimentos que põem tudo em risco. O maior deles todos é o amor.

Um rapaz da vila apaixonou-se por uma rapariga, mas ela era filha de ricos, e ele filho de pobres – na cabeça dele, nunca seria aceite como igual. Lembrou-se então do que se contava acerca dos dois cofres da Fonte Velha. A difícil decisão apresentou-se à sua consciência e decidiu arriscar – escolha tão ingenuamente jovem e leviana.

Quando chegou ao poço, submergiu nas suas águas e puxou por uma das lajes. Sacou o cofre e o cofre estava vazio. A peste, pensou ele. O mal estava feito. Resolveu levantar a segunda laje e lá encontrou o tesouro. Não se sabe se o rapaz conseguiu seduzir a sua amada com a fortuna que fez naquele dia. Mas a lenda diz-nos que o Sardoal foi vítima de uma peste nefasta, que contaminou tudo, causadora de mortes e doenças e desacatos.

Um dia soube-se o que tinha causado tudo isto. O povo, ainda assim brando, exigiu ao miúdo que devolvesse todo o seu tesouro ao cofre de onde o tinha tirado. A peste, desde aí, sumiu-se. Pelo menos até que outro miúdo, com a demente loucura do primeiro amor, se lembre de lá voltar.

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As águas curativas

A lenda que agora se contou pode dar-nos pistas sobre as propriedades curativas da água da Fonte Velha. Com efeito, há testemunhos escritos que atestam o seu poder no tratamento de maleitas relacionadas com os rins ou com a paralisia física e psíquica – um deles vindo do médico de D. João V. Será esta virtude paliativa o tesouro que, simbolicamente, se lhe atribui?

Por outro lado, a ideia de dilema, ou seja, de haver um tesouro e uma peste dentro do poço, eleva a narrativa para o campo da moralidade, no sentido em que apenas a mesquinhez pode ser causadora de grandes males. Também aqui conseguimos estabelecer um paralelismo com o uso indevido e egoísta das águas da Fonte Velha que, como pipa pública, deve ser de todos e não apenas de alguns.

Sardoal – o que fazer, onde comer, onde dormir

No eixo oriental do Ribatejo, o concelho do Sardoal é paragem certa para quem faz a Estrada Nacional 2, agora em voga. Lá se podem experimentar as tigeladas, um belo doce servido em barro que é também servido em Amarante e em Ferreira do Zêzere. Lá se pode visitar o Convento de Santa Maria da Caridade que guarda o magnífico Oratório de Arte Namban. Lá se pode conhecer a sua versão das Festas do Espírito Santo, comummente apelidadas de Bodo. E lá se pode ouvir a bonita lenda da Fonte Velha, ainda hoje versada.

E para almoços ou jantares bem aviados, há o restaurante Dom Vinho cumpre bem o propósito. Dormir é na curiosa Casa do Trapo, com uma decoração sui generis e uma piscina a acompanhar - a casa fica a norte da sede de concelho, seguindo pela Nacional 2 até Mivaqueiro.

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Mapa

Coordenadas de GPS: lat=39.53361; lon=-8.16349

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