Comporta
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Desde o passado século que se tem desenvolvido um nobre encanto pelas aldeias piscatórias. Na Comporta, juntaram-se depois as gentes do mar a migrantes novos, os operários do arroz. Acima de todos eles houve sempre um grande proprietário: a monarquia, os ingleses, os Espírito Santo, e quem mais se seguir…
A Comporta é uma terra de contrastes, e não pelo cenário que a envolve. Lá ainda vemos o poder das grandes famílias e a pobreza dos empregados do arroz. E um e outro não estão a mais do que um punhado de metros de distância.
Origem da aldeia da Comporta
A origem da Comporta confunde-se com a origem da herdade com o mesmo nome. Na verdade, até há bem pouco tempo – isto é, até quando parte deste grande projecto privado foi vendido, como fenómeno turístico, a diversas famílias abastadas -, dificilmente se percebia a diferença entre uma (a Comporta aldeia) e outra (a Comporta herdade).
Até à primeira metade do século XIX, estes eram pântanos selvagens, dominados pelas águas do Sado e do Atlântico, um lamaçal apenas pontualmente humanizado com casas improvisadas de pescadores, içadas acima de água, que aqui lutavam por uma trabalhosa sobrevivência.
Foi preciso chegar à terceira década oitocentista para a Coroa portuguesa se aperceber do potencial que o território tinha para a produção de arroz. É aí incorporada na Companhia das Lezírias do Tejo e do Sado, transitando depois para a República. Neste período são contratados trabalhadores (alguns deles crianças) para o trabalho nos arrozais – muitos deles negros, vindos das colónias, ou até os chamados mestiços do Sado, homens que se misturaram com a população negra que se fixou nas ribas sadetas.
Quase cem anos depois da sua fundação, a Herdade é então vendida ao aliado internacional do costume: o Reino Unido, mais concretamente à The Atlantic Company, fazendo o mesmo que outras conterrâneas suas faziam no norte (neste caso, na produção de Vinho do Porto) mas aqui virada para a orizicultura.
Começa então o período de compra de terra ao rio, no eixo setentrional da herdade, numa conquista que se vai fazendo década após década e que moldará a paisagem rural da Comporta até hoje.
É no período de domínio inglês que se tornam assumidas as gigantes discrepâncias entre os senhores das terra e os seus subservientes. São famosos os episódios descritos sobre uma senhora polaca, casada com um dos directores da Herdade da Comporta, que obrigava todos os assalariados a ausentarem-se da praia sempre que ela decidia passear por lá, normalmente a cavalo.
Em 1955, a família Espírito Santo compra a Herdade. Apesar de se manter uma relação de vassalagem feudal entre trabalhadores e senhores, a mudança parece ter resultado numa maior preocupação para com os mais carenciados. Construíram-se tanques, criaram-se escolas, bairros sociais, e entregaram-se alguns terrenos de cultivo (os menos apetecíveis) a certos trabalhadores para que eles pudessem criar o seu próprio arroz. É por aqui que nasce aquilo que se vê hoje na aldeia da Comporta.
Salienta-se, de 1974 para cá, o período de nacionalização da Comporta, mais tarde novamente privatizada, e, como resposta às imposições da Política Agrícola Comum, recentemente vendida em lotes a famílias mais abastadas (portuguesas e não só) como destino premium e sustentável.
A igreja e o pinhal, nas traseiras da Comporta
Comporta, a hippie-chic
A pequena descrição do The New York Times acerca da Comporta é certeira: classificando-a como uma aldeia hippie-chic, recomendam a ida antes que se torne demasiado conhecida.
A Comporta de agora não é, vendo bem as coisas, assim tão diferente da Comporta de antes. Mantém-se bem estratificada, e conseguimos perceber em poucos segundos quem vem de onde: temos as famílias que já aqui vivem há décadas, descendentes dos trabalhadores do arroz, com outras, de forte poder de compra, que cá vieram parar no final do século XX, quando a terra começou a ser aproveitada para fins turísticos. Esta mescla é bem visível, sobretudo quando confrontamos a zona comercial da aldeia, mais próxima da herdade, com a parte alta e periférica – e foi desta salganhada classista que surgiu a frase brincar aos pobrezinhos como definição para umas férias na Comporta. Sem querer, a infeliz tirada de Cristina Espírito Santo é reveladora destas duas comportas, a dos pobres, e a dos ricos.
O lado chique é actualmente inseparável da aldeia. Pelas lojas, que não são baratas. Pelo mercado (também conhecido por Casa da Cultura), que frequentemente apresenta colecções de roupa. E mais do que tudo pela restauração e pela hotelaria, a nova vaca de ouro da região.
As cegonhas na Comporta
Um paraíso com praia
A captação de investimento turístico não é de estranhar. A Comporta é, de facto, muito bonita. Um belo pedaço a colar ao Rio Sado, que funciona como antecipação da península de Tróia, essa assumidamente convertida em resort.
Em torno da aldeia vemos um infinito arrozal, por vezes ladeado por encostas de vinha, que só termina porque dali para norte começa o paul, esse pequeno mar (ou lama, dependendo da maré) que mistura o sal atlântico ao curso fluvial do Sado.
A zona baixa da Comporta segue a estrada paralela aos campos de arroz. É onde a movida se faz. Escondida, nas traseiras da aldeia, já a anunciar o pinhal que foi sendo construído pelos ingleses e, mais tarde, pelos Espírito Santo, está a igreja e os jardins que a cercam.
Importa falar de um outro visitante destas paragens, além dos que cá moram e além dos que cá passam férias: a cegonha-branca. É raro o telhado que não tenha uma de vigia, e rara a abertura de chaminé que não tenha sido eclipsada pela enormidade do seu ninho. Os vagarosos voos das cegonhas são uma constante nestes céus.
Frequentes são também as casas com cobertura de colmo, muitas delas antigos lares de gente que lá vivia sem água nem luz, agora convertidas em moradias de luxo, com óbvias melhorias nas comodidades, dando outras condições a quem lá mora, mesmo que apenas nos meses em que o sol está em forma.
E lá ao fundo, na continuação da estrada nacional que avança até Tróia e que nos leva, antes disso, até à magnífica Praia da Comporta, fica a casa magna da Herdade, a semente de tudo o que de humano daqui brotou, entretanto virada museu: o Museu do Arroz, que também é restaurante.
Alcácer do Sal – o que fazer, onde comer, onde dormir
Alcácer do Sal, concelho não muito distante da urbe de Lisboa e ainda menos da de Setúbal, contraria os ventos polutos das cidades que lhe estão próximas com o límpido ar do campo que nos entra nariz adentro, sublinhado pelos voos vagarosos da cegonha-branca.
Oferece de tudo um pouco para os mais variados tipos de turismo. Se é inegável que uma certa elite prefere as paragens balneares da Comporta e da península de Tróia, há um pacote cultural à disposição no interior do município, representado por monumentos como o Castelo de Alcácer, a Capela das Onze Mil Virgens, o Santuário do Senhor dos Mártires, os concheiros, a aldeia de São Bento e os seus descendentes de escravos, ou a Lapa de São Fausto. Há também oferta de banhos para lá das praias, no exuberante Estuário do Sado que se abre a oeste de Cachopos, mas também nas duas grandes albufeiras a montante da sede de concelho: a de Vale do Gaio, a sul, e a do Pego do Altar, a norte.
Assim, é também normal que o cardápio da hotelaria reflicta a diversidade turística que Alcácer do Sal recebe. Para quem procura luxo, e não sendo o dinheiro um problema, as sugestões passam pelo Vale do Gaio Hotel, e pelo Sublime Comporta. Mas há alternativas, sem prejuízo da qualidade: o Spatia Comporta, por exemplo, com restaurante e bar incluído.
Para aconchegar o estômago, são elementares o restaurante A Escola, numa benéfica combinação de mar e alentejo, e o restaurante Dona Bia, uma referência da Comporta.
Mais ofertas para ficar no concelho de Alcácer do Sal em baixo:
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=38.37971; lon=-8.78507