Albufeira da Aguieira
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A Albufeira da Aguieira – ou Albufeira da Foz do Dão – anda ali disfarçada entre as serranias beirãs. Não tem, para a Grande Lisboa que procura repouso perto de águas doces do interior, a fama de que o Alqueva, Castelo do Bode e Montargil gozam. No entanto, é enorme. Uma das maiores do país. Um contributo fundamental para a cidade de Coimbra e da Figueira da Foz que já sem ela não passam.
A barragem
Projectada na década de 1970, concluída no início da década de 1980, a Barragem da Aguieira foi pensada numa primeira instância enquanto fornecedora de electricidade à região, nomeadamente à área urbana de Coimbra e do seu distrito, ao mesmo tempo que garantia depósito seguro para irrigação dos pequenos ou grandes terrenos agrícolas e um maior controlo do nível caudaloso dos rios que a fornecem.
O seu propósito foi diversificando, e às funções prioritárias relacionadas com a produção de energia, juntou outras como a de fornecimento de água à indústria local (sobretudo a da celulose), à agricultura intensiva, e ao consumidor final. Ultimamente, como tem vindo a acontecer com tantas albufeiras espalhadas pelo país, acolheu o turismo, maioritariamente o interno, aproveitando-se da sua comprida e recortada margem.
Foi fixada num ponto estratégico, quando três rios de dimensão considerável – o Criz, o Dão, e o Mondego, por ordem crescente -, vindos de norte, se unem numa zona mista, que separa a Beira Alta da Beira Litoral. O paredão, distinto de outros exemplares pelas suas arquivoltas e que chega quase aos cem metros de altura, aguenta nas suas costas a força de três densos caudais, cada um afluente do seguinte. Não admira que a albufeira que criou seja perfeitamente reconhecível no mapa de Portugal, chegando a fazer parte de seis diferentes concelho: a nascente, Carregal do Sal e Tábua; a poente, Mortágua e Penacova; e pelo meio, Santa Comba Dão e um nicozinho de Tondela. No total, são 2000 hectares de água para explorar.
As arquivoltas da Barragem da Aguieira, com a albufeira a montante
A albufeira
Conseguimos dividir a imensidão da Albufeira da Aguieira em quatro sectores, cada um com um o seu jeito particular, e que sucintamente podemos discriminar da seguinte forma: uma primeira área correspondente ao Mondego entre a Póvoa de Midões e Pinheiro de Ázere; uma segunda que acompanha o rio Dão entre Papízios e Santa Comba; uma terceira que coincide com o curso do rio Criz desde a Póvoa do Lobo até Vale de Paredes; e, por fim, uma quarta que é, no fundo, a fusão destes três rios num só, depois do Criz finar no Dão, e do Dão finar no Mondego.
Veremos cada um destes capítulos da Albufeira da Aguieira, um por um.
A Aguieira do Mondego
É na Ponte Engenheiro Rui Sanches, travessia que liga o município de Tábua ao município de Carregal do Sal, que o Mondego alarga, sentindo já os efeitos do açude a jusante. Conseguimos ter uma boa perspectiva deste início da albufeira subindo ao Miradouro do Penedo C’abana, referência a mais uma pedra baloiçante portuguesa, onde gente vê nas suas oscilações um tira teimas do destino. Daí em diante, em ambas as margens, o que se vê é uma paisagem muito pouco urbanizada, ainda relativamente longe das sedes de concelho, atapetada por uma mancha de eucaliptos e pinheiros.
Na margem sul, aliás, é difícil alguém chegar à borda de água, a menos que os meandros lhe sejam familiares. Do lado norte a coisa fica facilitada por alguns trilhos em terra batida que seguem paralelos ao rio e por uma estrada em bom estado que serve uma das poucas praias fluviais com direito a parque de merendas – a Praia da Senhora da Ribeira da Parada, cujo nome foi repescado à antiga capela parcialmente submersa em dias de cheia (uma nova, com o mesmo nome, foi levantada um pouco ao lado, acima do nível da água).
Adiante poucas novidades há, se exceptuarmos a nova ponte que põe Tábua e Vimieiro a poucos minutos de distância, e a sua versão ancestral que se encontra em ruinas mas, ainda assim, bem visível para quem ali passa. Chegados a Ázere, um novo miradouro, na margem esquerda, marca o fim deste troço.
A capela da Senhora da Ribeira da Parada, junto à praia com o mesmo nome
Ruinas da Ponte Velha de Tábua que ligava Tábua a São João das Areias
A Aguieira do Dão
Quanto ao Dão, os primeiros sintomas de alargamento do leito acontecem logo depois de testemunharmos um fenómeno natural que dá conta de circulares depressões fincadas em rochas, conhecidas localmente como Marmitas de Gigante da Nagozela, junto a Papízios.
O episódio descrito no rio Mondego repete-se deste lado. A margem esquerda bem longínqua de vias de acesso em bom estado. A margem direita ligeiramente melhor, e por uma simples razão: a encerrada Linha do Dão, troço de caminho de ferro que aqui passava com pausa no Treixedo, foi transformada na maravilhosa Ecopista do Dão. Fora os esporádicos ciclistas e caminhantes que lá cumprem os seus quilómetros, estamos sozinhos com o rio.
A situação muda depois de ultrapassada a ponte férrea. Logo a jusante vemos os primeiros sinais de presença humana quando salta à vista o povoado do Granjal. Segue-se Santa Comba que, para quem está no rio, parece que desilude. Não é exactamente a cidade que decepciona, mas a perspectiva com que a vemos daqui. Santa Comba está montada em torno da sua ribeira do Couto, e por isso, de certa maneira, de dorso voltado para o Dão. Fica tão à beira da albufeira que, contudo, não passa pela cabeça não a visitar quando aqui andamos.
Granjal, um prenúncio de Santa Comba Dão
Miradouro doPenedos dos Namorados – o início da Albufeira da Aguieira no rio Dão
Ponte férrea da Ecopista do Dão
A Aguieira do Criz
Já quanto ao Criz, o mais modesto do trio fluvial, não fosse haver água, e poderíamos falar num deserto. De baixo caudal, o Criz não consegue o magnetismo dos seus comparsas. As aldeias e vilas andam longe. Passa-se uma boa hora sem se vislumbrar uma casa, um abrigo, um terraço. Está visto que o homem não quis nada com isto. Preferiu terrenos que lhe garantissem melhor sustento.
Património, por aqui, só mesmo natural. São quilómetros de rio emoldurados pela abusiva densidade de eucaliptos, numa e noutra margem. Há, neste pedaço da Albufeira da Aguieira, mais para sentir do que para ver.
O lago da Aguieira
Por fim, vem a albufeira do esplendor do espelho de água, quando o Criz dá a mão ao Dão, e o Dão dá a mão ao Mondego. O resultado está mais perto de um lago do que de um rio. E é aí que temos mais oferta lúdica. Há programas para visitas de barco ou de gaivota, há treinos e torneios de cayak, há hotelaria e restauração, há passeios de bicicleta, há aulas de wakeboard e de winsurf, há paintball…
É também por aqui que mais praias vemos – oficiais e não oficiais. Na ponta Este, há a Praia Fluvial da Senhora da Ribeira, de nome quase igual à outra acima mencionada, mas neste caso com mais serviços a apoiar, incluindo a instalação de um pequeno porto para veleiros, lanchas e motas de água. Já bem próximo da barragem, temos uma península com nova praia – a da Foz do Dão (nome tomado à antiga aldeia que aqui existia e que foi engolida pela albufeira, a par de outras como a de Breda ou a da Senhora da Ribeira), com bar anexo. Um pouco a norte, quando o Dão e o Criz se encontram, uma esquina terrestre serviu de nova plataforma para banhos, a Praia Fluvial de Falgaroso, cujo bar, dependendo do nível da cheia, pode estar quase a flutuar em água doce.
Não podemos terminar sem falar do Montebelo Aguieira Lake Resort & Spa, ressalvando que não foram eles que me pediram a publicidade. Este é o sítio para estar se a intenção é imergir-se na Albufeira da Aguieira. Bom para quem quer sossego e bom para quem quer aventura. E de belos jardins.
Bar e Praia Fluvial da Foz do Dão
A mini praia de Falgaroso
Porto junto à Praia da Senhora da Ribeira
Mapa
Coordenadas de GPS: lat=40.33927 ; lon=-8.18514