Santuário de Nossa Senhora das Preces

by | 29 Mar, 2016 | Beira Alta, Lugares, Monumentos, Províncias, Religiosos

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Há quem não resista à comparação e ponha o Santuário de Nossa Senhora das Preces uma Fátima das gentes beirãs. E explica-se bem o porquê da analogia.

A aparição da Senhora das Preces

Terá tido origem numa visão da Virgem por parte de um pastor – e deste tipo de vislumbres está o país carregado, sejam eles feitos por pastores (no interior) ou por pescadores (no litoral). Aqui, segundo a lenda, tal aconteceu no século XIV, no topo da Serra do Calcurinho, e portanto muitíssimo antes de existir uma Nossa Senhora de Fátima.

Trata-se de uma lenda comum: uma imagem que, achada num píncaro de um monte, foi levada por algum representante católico e depositada numa igreja. De lá fugia constantemente a imagem, sem se saber como, até ser vista sempre no mesmo sítio, aquele onde fora encontrada originalmente. Vezes tantas tal aconteceu, que o povo decidiu erigir uma ermida dedicada à sua nova Virgem onde ela, misteriosamente, ia ter por seu próprio pé.

Não será difícil ver neste tipo de tradição oral, um encontro do saber popular com os locais sagrados pré-cristãos, que mais tarde a igreja, por não conseguir apagar, veio absorver. A falta de sucesso das autoridades clericais em desligar o subconsciente das povoações à sacralização de determinados antros naturais, conotados com o paganismo, está bem reflectida na vontade desta imagem querer voltar ao seu sítio de origem, que não é dentro de uma igreja mas sim num altar selvagem e austero que a mãe-natureza fez.

O santuário

No sítio onde a santa voltava, construiu-se uma pequena capela. E por perto, em Vale de Maceira, edificou-se monumento mais complexo e de melhor acesso a quem venha prestar culto à Senhora, como acontece no caso da Romaria de Nossa Senhora das Preces, na primeira semana do mês de Julho.

O Santuário é composto por catorze capelas de toque barroco e granítico que se distribuem ao longo de um caminho mato adentro, cuja altitude começa nos 650 metros e termina nos 750 metros, devotado ao julgamento e sofrimento de Cristo antes da sua morte, naquilo a que nos habituámos a chamar de Paixão de Cristo.

A inclinação acentuada é um lugar comum neste tipo de lugares sagrados – os melhores exemplos em Portugal são o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego, e, está claro, o Bom Jesus, em Braga (e poderemos colocar o Santuário de Nossa Senhora das Preces como uma versão reduzida destes dois). Não é por acaso. A caminhada que por lá se faz quer-se em ascenção, uma subida do homem acima daquilo que é terreno, superando os sacrifícios físicos, tal como Cristo.

Seguimos os episódios finais da vida de Jesus, capela após capela, até chegarmos à décima segunda, a da Ressurreição, com um simbolismo que vale a pena fazer notar. Depois do esforço, o caminhante chega como homem renovado, ressuscitando despido de materialismo. Depois desta ainda se seguem mais dois postos: a Capela de Santa Maria Madalena, e mais à frente, a Capela de Santa Eufémia. Esta última termina com uma vasta e ampla visão sobre o horizonte – lá está, novamente, a natureza como a bênção suprema.

Um dos melhores exemplos da devoção religiosa da Beira Alta, ainda assim longe da massa humana que antes aqui vinha, como parte da romaria ou a título individual.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=40.281371 ; lon=-7.852153