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Hoje, os muros apiários são testemunhos de duas coisas: da importância das colmeias, por um lado, e da existência do urso-pardo em território português, por outro.

Paredes de mel

Estas estruturas, na sua maioria de planta circular, eram um criptex para alguns estudiosos – fossem eles antropólogos, etnógrafos, historiadores, qualquer coisa. O povo, que normalmente é a quem esta gente da cultura recorre para saber qual a razão para certos comportamentos populares, também desconhecia a função que estas paredes tinham.

Foi preciso um velho apicultor, num colóquio, referir, através de uma notícia de jornal, que era comum, pela idade-média, construírem-se muros de xisto ou de granito ou de quartzito de forma a que certos predadores (e lembremos que o urso-pardo, nessa altura, ainda aqui andava, a par com o texugo que ainda sobrevive) e certos fenómenos naturais não destruíssem o fabrico do mel e da cera.

Este foi o mote para que se começasse a pôr a hipótese de ver nestas vedações de pedra que vamos encontrando aqui e ali nas zonas do interior, quase sempre afastadas de zonas habitacionais, possíveis castelos serranos de protecção à apicultura.

Quando se confirmou que a utilidade destes muros era, de facto, essa, foi-se desenvolvendo investigação de forma a situá-los no mapa, numa de descobrir onde se concentram mais. Minho, Trás-os-Montes, Beira Alta e Beira Baixa parecem ser as províncias que mais se destacam, mas outros pontos, como o baldio da Serra de Serpa no Baixo Alentejo, conservam-nos de com outros materiais como taipa.

Como já mencionado, são quase sempre construídos em circunferência, bem altos, já que, muito provavelmente, a protecção do imponente urso-pardo está na sua origem. E muitas vezes observam-se remates feitos para o lado exterior numa de bloquearem ainda mais a chegada ao seu interior. Podem, dependendo do declive do terreno em que são montados, apresentar socalcos para nivelamento dos muros, bem como uma saída de água. Frequentes eram as árvores que cresciam lá dentro, chamarizes dos enxames e fundamentais para a mobilização das abelhas.

Entretanto, a cultura do mel caiu, os ursos-pardos desapareceram do mapa de Portugal (e talvez estejam a regressar, como aqui se fala), e os muros apiários deixaram de ter valor. Pelo menos valor financeiro. Mantêm-se como prova material de outras épocas, enquanto fonte cultural de um passado que está muito longe dos nossos dias.