Monumentos

Natureza

Povoações

Festas

Tradições

Lendas

Insólito

A melhor forma de chegar a Mértola é vindo de Alodôvar e fazer o caminho em direcção a Espanha, entrando no Parque Natural do Vale do Guadiana pela N267, essa estrada sem vivalma humana, onde os rouxinóis e os melros e as andorinhas e os coloridos papa-figos são monopolizam as melodias.

Por aqui, deixando a Ermida da Senhora das Neves num morro à nossa esquerda, chegamos à vila como se fossemos VIPs, pela altíssima ponte que se ergue bem acima do Oeiras, ribeira que daqui a nada, um pouco mais à frente, se irá juntar ao abundante Guadiana. Mértola fica na confluência destas águas, e apesar de não parecer ter problemas de fornecimento do mais importante de todos os recursos naturais, olhamos para esta povoação acastelada e é bem capaz de ser dos melhores exemplos de beleza seca no país. Há outra boa maneira de avançarmos em direcção a Mértola, pelo lado sul, ficando com toda a amplitude da vila gravada na memória, que nos faz perceber o porquê de ser tão importante para fenícios, romanos, sarracenos, e mais tarde para os cristãos da Ordem de Santiago, que povoou tanto metro quadrado do Portugal sulista.

Mértola, um quadro do sul

Adiante-se que de pouco ou nada serve falar-se do castelo como se fosse objecto separado ou incluído na vila. Mértola é o castelo, e o castelo é Mértola. A vila cresce à frente dele, do lado do sol, dentro de uma segunda cerca, exterior, que alarga a muralha envolvente da torre de menagem, e que desce e desce e desce até quase beijar o rio Guadiana. Aqui está algo que o Mertolense se habituou a ver: as marés deste rio fronteiriço, que ora põem a água ali mesmo à mão, ora a afundam fazendo de Mértola mais alta do que realmente é.

As casas são de uma só cor, de um ou dois andares, e daquele alçado branco como neve, transverso a todo o Baixo Alentejo. Contrastam com o castanho árido da terra, da cerca, e do castelo. Nem é preciso dizer que têm maquilhagem moura, porque está na cara. Toda a vila é uma fortaleza urbana berbere sem qualquer vergonha de estar já em território europeu – um prolongamento natural do Algarve, e este um prolongamento natural do norte de África. E há a mesquita, de inspiração marroquina, agora adaptada a igreja, um autêntico lugar de culto, sobretudo de culto ao belo: está lavada de cal, e é de passagem obrigatória, situada uns degraus abaixo do castelo, para o lado oriental.

E por fim a estátua de Ibn Qasi, sempre boa de lembrar pela actualidade que tem. Aventura-se que tenha nascido aqui, ou talvez em Silves. Ibn Qasi foi um intelectual muçulmano, um sufi, com possíveis origens cristãs, amigo pessoal de D. Afonso Henriques, morto por fanáticos islâmicos, num paralelismo que assusta de tão contemporâneo. O Mestre, apologista de um novo Islamismo, rejeitava o integralismo almorávida, e bateu-se por um reino justo, independente do império árabe mais rígido e fanático. Estranho pensar que, não fosse ele traído por correligionários, o Reino de Portugal poderia ser diferente, baseado numa aliança Islâmica e Cristã, como aconteceu enquanto Ibn Qasi e Afonso Henriques foram líderes espirituais do sul e do norte de um território que viria a ser Portugal. Está a cavalo, junto ao castelo, em pose de quem é imortal, e merece-o.

Festival Islâmico todos os anos no final de Maio. Se tudo o que foi dito acima não chega, que seja por isto.

Onde ficar em Mértola

É na margem esquerda do Guadiana que temos Mértola inteira disposta à nossa varanda.

A Casa da Ti Amália, em Além Rio, com habitações partilhadas e privadas, à escolha, situa-se mais a Leste. A Oeste, fica a luxuosa (mas de preços bem acessíveis) Quinta do Vau, com piscina exterior e ampla vista para Mértola, a norte.

Mapa

Coordenadas de GPS: lat=37.642184 ; lon=-7.661569