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As Charolas são a versão que a parte oriental do Algarve fez das Janeiras.

Umas Janeiras à la Algarvia, as Charolas são cantadas no início de Janeiro, num misto de boas vindas ao novo ano, mensagens cristãs, e ditos profanos.

O que são as Charolas algarvias?

Tratam-se de cantos feitos pelos chamados grupos de charolas, muitos deles com vinte ou mais pessoas, sobre os quais se junta um acompanhamento instrumental que é feito um pouco ao gosto de cada um: embora o uso de alguns metais, bem como de acordeões, violas e violinos, pareçam ser uma constante. Essenciais são as castanholas, dando-lhes um impulso rítmico muito característico e diferenciador face às Janeiras mais nortenhas.

O cancioneiro, quando em formato de espectáculo de palco, pode ser dividido em várias partes, separados pelo som austero de um apito: primeiramente, e depois da Marcha de Entrada que alinha todos os instrumentistas, há o Canto Velho, no início, e o Canto Novo, que vem de seguida. No Canto Velho, as canções versam quase sempre o mesmo tema, o nascimento do Deus Menino, numa altura em que o Dia de Reis está para chegar – embora as Charolas se estendam para lá desta data -, e é herdeiro das tradições ligadas aos cantares de presépio. O Canto Novo tem uma componente mais profana e em muitos casos é feito de forma improvisada.

Como é habitual, quer num, quer noutro, o sentimento cristão está presente nas letras, mesmo que, no segundo caso, não haja uma explícita alusão a Jesus.

Depois da passagem solene que atravessa o Canto Velho e o Canto Novo, entra a valsa, dita Valsa das Vivas, momento festivo e onde cada grupo pode mostrar o que realmente vale, seja com improvisos instrumentais, seja com improvisos líricos. É a altura em que mais se foge ao carácter grave da Quadra que se vive. Termina-se a actuação com a Marcha de Saída, ainda em ambiente de festa, e com os sempre bem vindos votos de bom ano.

Onde há Charolas?

Ocorrem, como qualquer Janeirada, no primeiro mês do ano, e são um fenómeno ainda hoje acarinhado pelas gentes do sudeste português, ao longo da costa que vai desde as vizinhanças de Faro até à fronteira que se estabelece na pombalina Vila Real de Santo António, com destaque para a pequena localidade da Bordeira, já no lado interior, poucos quilómetros a sul de São Brás de Alportel.

Muitos destes cantares são promovidos pelas Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, que aproveitam os seus espaços culturais (os Cine-Teatros e as Casas do Povo) para dar palco aos músicos, que quase sempre esgotam. Mas a melhor forma de os ouvir é à porta de casa quando eles, seguindo os passos das Janeiras no norte do país, andam de porta em porta, por vezes procurando a sorte de serem convidados a entrar para se servirem de petiscos caseiros.

Origem das Charolas

Tal como as Janeiras, o ritual de se cantar de casa em casa tem origem ainda nos tempos em que havia Deuses, quando romanos, nas suas Saturnais, as festas solsticiais correspondentes ao actual Natal, saudavam Janus (de onde deriva o mês de Janeiro) e lhe pediam protecção para o ano vindouro.

Janus, Deus das Portas Celestiais, é retratado com dupla cara, uma virada para a esquerda, outra para a direita, num dualismo que, tendo em conta a passagem de ano, tem muito de simbólico: o ano que parte face ao ano que chega.

Com o cristianismo, estas invocações transformaram-se em cantigas de louvor a uma nova luz, que numa reformada tradição se personificou na do Deus-Menino.