Aguardente DOC Lourinhã

by | 30 Set, 2016 | Estremadura, Gastronómicas, Províncias, Tradições

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Uma das maiores injustiças que este país faz ao seu património de bebidas alcoólicas é o desconhecimento que o povo tem em relação à aguardente vínica (por favor não confundir com bagaço) feita por territórios lourinhanenses, mais conhecida por Aguardente DOC Lourinhã.

Tem região demarcada, como quase nenhuma outra aguardente no mundo tem – talvez um dia ganhe todo o reconhecimento que merece

Aguardente DOC Lourinhã

A título de curiosidade, e só para vermos a importância que tal produto tem, há três regiões tidas como protegidas no que à aguardente vínica diz respeito. Uma delas, francesa, conhecemos bem: Cognac. A segunda, também francesa, não estará tão habituada a chegar aos ouvidos das pessoas, mas é sobejamente falada entre apreciadores: Armagnac. E a terceira? Pois, como já devem ter adivinhado, a terceira é a Aguardente DOC Lourinhã.

A fama das aguardentes deste pedaço da região Oeste vem de longe. Quando foi demarcada a região vinícola do Douro, muito do Vinho do Porto foi feito a meias com a aguardente da Lourinhã – na altura de misturar o resultado de uma fermentação deixada a meio com uma aguardente de qualidade, esta era muitas vezes esta a escolhida, juntamente com a francesa.

Foi essa a razão que levou a que, em 1992, uma zona fosse demarcada para a sua produção, dando-lhe o famoso selo de qualidade DOC. A partir desse ano, pela mão da Adega Cooperativa da Lourinhã e da Quinta do Rol, este ex-líbris nacional entrou no estrito leque de aguardentes que têm uma área identificada e protegida para a sua elaboração.

A demarcação concentra-se nas várias freguesias do concelho da Lourinhã, embora haja outras, fronteiriças, que pertencem a concelhos próximos: Peniche, Torres Vedras, Bombarral e Óbidos. São assim terras do Oeste, de clima entre o mediterrâneo e o atlântico, com solos argilosos e calcários, encostados ao mar. Esses que, talvez um dia, ponham Portugal no mapa, a par de França, no que ao consumo de aguardentes diz respeito.

Por isso já sabe. Se um dia estiver prestes a oferecer uma garrafa de Cognac, pense neste outro Lourignac português.

Características da Aguardente da Lourinhã

É feita com castas cultivadas na região – são muitas as permitidas, poucas as recomendadas. Estas servirão para se fazer o vinho, matéria-prima de uma aguardente vínica, do qual é destilada – ao contrário da aguardente bagaceira, cuja destilação é feita do sumo da uva.

O vinho, antes de destilado, não deverá ultrapassar os 10º de teor alcoólico. Surge daí o habitual líquido incolor, carregado de álcool, que será depois envelhecido em madeira até ganhar cor. O estágio, em barris de carvalho, tem de contar com um mínimo de dois anos. A partir daí vai-se somando idade, ficando com o aspecto amarelado característico das aguardentes velhas que saboreamos depois de jantar. No final, a graduação deverá andar muito perto dos 40º.

Já engarrafada, é esperar pelo momento certo para a beber. Uma aguardente tem timing próprio. A este escriba, por exemplo, é a melhor companhia depois de jantares de carnes, nos meses frios, e bebida à temperatura natural – nem aquecida, como muitos gostam, nem fria, que só serve para disfarçar más destilações.

A Aguardente DOC Lourinhã só encontra competição nas internacionais Cognac e Armagnac

Visitar a Cooperativa

Para sabermos – e provarmos – um pouco deste pecado nacional, no melhor sentido possível, a Adega Cooperativa da Lourinhã recebe visitas. Por 5€, além da visita guiada pelas caseiras caves que guardam estes tesouros por abrir, recebe-se uma pequena garrafa de aguardente e há prova da mesma in situ.

Como falamos de um produto perigoso para a sobriedade, há cama para ficar bem perto, no Hotel Figueiredos, situado no centro da Lourinhã e a cerca de 10 minutos a pé. Ou 30 minutos de gatas.